Pressão dos Pares -Marcela Moura

Pressão dos Pares

 

A convivência com familiares e amigos é muito importante para a formação do auto-conceito e auto-estima. Nos primeiros anos de vida e boa parte da infância, muito da construção desses conceitos se dá pela interação com os pais. A interação com os amigos é também relevante, principalmente no que diz respeito à socialização e desenvolvimento de habilidades interpessoais, porém, nessa primeira fase da vida, são os pais que têm uma influência mais direta e mais massiva na formação da personalidade e identidade da criança.

 

No entanto, a medida em que a criança vai crescendo, em particular, a medida em que a adolescência vai se aproximando, cada vez mais a validação dos pares começa a ganhar maior importância na formação da auto-estima. Ser reconhecido e aceito pelos pares é relevante, assim como passa a ser importante ter um senso de pertinência, ou seja, querer pertencer, fazer parte de determinados grupos. É importante para o indivíduo em crescimento identificar-se, ter afinidades, pontos em comuns e, a partir dessas parecenças, agrupar-se: a turma da escola, do tênis, da crença religiosa, do violão, do curso de desenho, do skate, do inglês, e assim por diante.

 

Com essa necessidade de socialização, reconhecimento e validação, muitas vezes, em contrapartida, também vem a expectativa, a cobrança e pressão dos pares. A pressão dos pares, que sempre existiu... Nos dias atuais, entretanto, a introdução de tecnologias, uso de eletrônicos às vezes de forma excessiva, a grande “ligação” que boa parte dos jovens têm com internet e redes sociais, parece ter dado uma nova dimensão à pressão dos pares.

 

O uso precoce de eletrônicos e a difusão de mensagens no mudo virtual, tal pressão parece começar tão cedo quanto entre crianças da educação infantil! É a pressão para ter a mochila de um certo personagem, o tênis de uma certa marca, de ter um certo celular, jogar um certo jogo, frequentar um certo clube, ter um certo destino de férias...

 

Na adolescência, a pressão pode ter um foco mais pessoal e, portanto, ser mais facilmente associada com um senso de valor da pessoa. Há uma cobrança para ter uma certa aparência, um certo peso, pertencer a um certo grupo de amigos, ser popular, ir a determinadas festas, ter um certo número de curtidas nas redes sociais. Na busca por validação, aceitação e até para sentir-se querido, em alguns momentos, jovens podem sentir-se obrigados a aderir a certos padrões de comportamento, às vezes até contrariando seus princípios ou suas vontades. Assim, há jovens aderindo a comportamentos de risco, cometendo excessos, talvez se expondo, por vezes deixando de construir a sua real imagem, para fazer que nem corresponde a quem realmente é, só para conquistar a aprovação dos amigos. Na internet, são apresentados desafios, são postagens nos seus próprios canais para conquistar seguidores; nas redes sociais, nudes, sexting, cyberbullying...

 

Escondidos atrás de seus eletrônicos, mas não mais protegidos, pelo contrário, extremamente vulneráveis emocionalmente. Já há muitos estudos que apontam um aumento de ansiedade, depressão, e sofrimento psicológico entre jovens (12 e 25 anos) e relacionam ao uso de tecnologia eletrônica, redes sociais e redução de horas de sons (*Manual de Orientação SBP, Out 2016; Revista Fapesp, Jun 2019).

 

Adolescência e início da vida adulta marcam um momento importante de busca da própria identidade, de olhar para fora, mas também para dentro, até encontrar a si mesmo, definir-se como indivíduo. Como um jovem submetido a essa pressão demasiada dos pares consegue concretizar esse processo de forma plena de busca da identidade? Esse processo, por natureza não é tranquilo, quem já passou pela adolescência sabe... No entanto a pressão dos pares foi amplificada no mundo moderno e pela “relação abusiva” que alguns jovens estabelecem com eletrônicos e redes sociais. Por consequência, tem se criado muita angústia, aflição, ansiedade, sofrimento, sentimento de vazio e solidão entre os jovens pois, a constante ânsia de satisfazer os outros e ter a aprovação dos outros, tem tirado o foco da própria pessoa, da oportunidade de refletir sobre quem ela é, de promover auto-conhecimento, de ter ciência de quais são seus valores e propósitos.  Isso compromete o desenvolvimento do senso de “self”, torna sua essência frágil e, de certa forma, cada vez mais dependente da validação e da aprovação dos outros, mais vulnerável.

 

Precisamos ensinar aos jovens a retomar o caminho de verdadeiramente conhecer as pessoas além da superfície: seja conhecer melhor aos outros, seja conhecer mais profundamente a eles mesmos!

 

Marcela Moura 07/08/19

 

 

 

*Manual de Orientação -Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital – Sociedade Brasileira de Pediatria - Out 2016

 

Contato

Dra Marcela Alves de Moura Especialista em Psiquiatria - Associação Brasileira de Psiquiatria. Mestrado e Doutorado em Psicologia Clínica - Washington State University - EUA

Ed. TRIO BY LINDENBERG
R. Prof. Luiz Curiacos, 109 - Sala 811 - Cidade Jardim, Piracicaba - SP, CEP
Piracicaba, SP - 13416-461

(19) 3041 0435 ou
WHATSAPP
(19) 99611 0435
INSTAGRAM @mouradramarcela