1. O Poder da Relação entre Pais e Filhos

O PODER DA RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS

Dizer que o ser humano é fruto da interação entre biologia e ambiente é uma verdade que  explica, numa versão simplista, a infinita complexidade do que é ser uma pessoa. Em termos de desenvolvimento humano, são muitos os fatores que contribuirão para a formação do indivíduo: genética, temperamento, personalidade, ambiente familiar, vivência escolar, convívio social, etc. No entanto, é provável que nenhum outro fator ambiental tenha tanta influência na formação de cada pessoa quanto a relação da criança com seus pais. Acredito que pais saibam da importância de estabelecer uma boa relação com seus filhos. Porém, em minha experiência clínica, boa parte dos pais não tem ciência do poder que eles têm dentro desta relação. Bowlby (1969) e Ainsworth (1970), observando a interação de crianças pequenas com suas mães, desenvolveram a Teoria do Apego, uma das principais teorias de desenvolvimento humano da atualidade. Desde então, seus achados têm sido validados por um variado número de pesquisas. O que se descobriu é que a relação entre pais e filhos nos dois primeiros anos de vida é determinante na forma como a pessoa percebe a si mesma, aos outros e relaciona-se com o mundo. Além disso, essa relação pode predispor ou proteger contra doenças físicas e mentais. Assim, a forma como os pais cuidam dos seus filhos, conversam com eles, falam sobre eles, acolhem suas demandas e atendem suas necessidades, estabelece padrões de interação que favorecem o desenvolvimento de um vínculo seguro ou inseguro. Além da forma, interessa o tempo em que esta interação acontece. Neste sentido, o conceito de “responsividade” é muito importante e refere-se a capacidade dos pais responderem às necessidades dos filhos no momento em que elas aparecem. É preciso salientar que necessidade é claramente diferente de vontade, impulso ou capricho da criança. Dentro desta teoria, interação, vínculo, necessidade e responsividade estão ligados a questão do desenvolvimento da criança de forma plena e saudável, o que passa pelo, mas vai além do aspecto da sobrevivência. O estabelecimento de um vínculo seguro é decorrente de um padrão de interação nos primeiros anos de vida que proporcione afeto, atenção, respeito, encorajamento, proteção, segurança, constância, coerência, previsibilidade, limites e contenção. Nos anos seguintes, a criança inicia um processo lento e longo de formação de sua identidade, a ser concretizado no final da adolescência. Para tal, ela trabalha três conceitos fundamentais: auto-conceito (o que ela pensa dela mesma), auto-imagem (como ela se vê) e auto-estima (como ela sente-se em relação a si mesma). Pois é da relação entre pais e filhos que vem o embasamento para a formação destes conceitos. Mais tarde, uma criança com vínculo seguro, auto-conceito, auto-imagem e auto-estima positivos tem maior potencial para tornar-se um adulto autoconfiante, independente, autônomo, bem sucedido e feliz. O estilo parental no manejo da disciplina também interfere na formação do indivíduo. Práticas parentais autoritárias e, no outro extremo, permissivas, por mecanismos diferentes, grandemente comprometem o desenvolvimento de responsabilidade, capacidade de julgamento e discernimento das crianças. Até mesmo a super-proteção que, em princípio, parece ser motivada pelo amor dos pais pelos filhos, em realidade traduz a incerteza dos pais sobre a competência dos seus filhos em realizar determinada ação (decidir, executar uma tarefa, escolher amigos, etc). Em outras palavras, superproteger torna-se uma forma de cultivar a insegurança e a dependência nos filhos. Acredita-se que uma prática parental “com autoridade”, que compartilha muitas das características do vínculo seguro, é a que mais propicia o desenvolvimento de uma relação familiar harmoniosa, com respeito mútuo e intimidade entre pais e filhos criando indivíduos plenos e felizes.

            Marcela Alves de Moura - Abril 2011

           

           

 

 

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Dra Marcela Alves de Moura Especialista em Psiquiatria - Associação Brasileira de Psiquiatria. Mestrado e Doutorado em Psicologia Clínica - Washington State University - EUA

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