Liberdade, Independência e Autonomia

Liberdade, Independência e Autonomia

LIBERDADE, INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA

 

Jovens têm uma ânsia tão grande de conquistar sua “liberdade total” e independência, como se liberdade e independência fossem sinônimas. E mais, como se independência pudesse ser conquistada plenamente sem autonomia.

 

Primeiro, numa sociedade civilizada, liberdade total não existe, pois, para que a liberdade de todos os indivíduos seja garantida, algumas limitações às liberdades de cada indivíduo acabam sendo impostas- isso é fato! Eu não posso fazer festa na minha casa com música alta, de madrugada, porque meus vizinhos querem dormir ou precisam trabalhar, e eu preciso respeitá-los. Ponto final. Então, liberdade total não existe para ninguém, porque minha liberdade esbarra no meu dever de respeitar o outro.

 

Depois, liberdade, independência e autonomia são três conceitos que coexistem, complementam-se, mas não são a mesma coisa. Liberdade é um direito, garantido por lei. Sem querer ignorar as desigualdades sociais e brutalidades que acontecem mundo a fora, todo ser humano nasce livre, ou pelo menos deveria ser assim. Independência tem a ver com iniciativa, postura proativa para fazer escolhas. Autonomia relaciona-se com a capacidade de tomar conta de si mesmo, com um senso de competência, de ser pleno. De fazer escolhas, sim, mas de ser capaz de avaliar riscos, arcar com consequências e lidar com resoluções, ou seja, encontrar caminhos.

 

Por isso, o que torna alguém “gente grande” não é só ter a liberdade, a coragem e a independência para ir, fazer, acontecer e desfrutar dos prazeres da vida. É preciso também ter autonomia, ou seja, habilidade para tomar conta da própria vida. Em outras palavras, liberdade e independência, nos movem para ir adiante, ter iniciativa, fazer coisas, experimentar, aproveitar a vida, mas é a autonomia que nos capacita a lidar com o revés,  avaliar as escolhas, resolver problemas, arcar com as consequências, aprender com os erros, buscar soluções, superar adversidades.  É a autonomia que nos dá condições de sustentar a liberdade e a independência.

 

Diante do exposto, pensando num cenário relativamente comum nas famílias: o universitário ou a universitária vai para a faculdade noutra cidade, falta às aulas com frequência, faz só festa, perde o semestre. Quando volta para casa, precisa dar a notícia para os pais e pedir para pagar todas as matérias DE NOVO! Os pais querem entender o que aconteceu pois, na visão deles, o filho ou a filha, “tinha tudo para ser aprovado”. Cria-se uma discussão. Vale o conhecido discurso: “Eu já tenho 18, 19, 20 anos, deixa eu viver a minha vida!” Ou: “Não se meta, a vida é minha”?

 

Depende!   Eu não tenho nada contra a gente jovem fazer festa em tempo de faculdade. Pelo contrário! Eita tempo bom!!!!  Mas fazer festa em tempo de faculdade é diferente de fazer festa em detrimento da faculdade...

 

Assim voltando ao cenário hipotético, na minha opinião, há duas possibilidades:

 

1)    O jovem percebe que, por mais que deseje, não é realmente independente e autônomo, afinal vai para a faculdade, com tudo bancado pelos pais- muitas vezes com toda mordomia- precisa fazer a sua parte, que é cursar a tal faculdade! Faz festa, sem problema. Entretanto, achar que está sendo injustiçado ou incompreendido quando é cobrado por não cumprir sua parte, demonstra imaturidade ou falta de responsabilidade. O discurso: “Não se meta na minha vida!”, nesse caso não cabe.

 

2)     o jovem opta por ir para faculdade nos seus próprios termos, no seu próprio ritmo. Quem sabe fazer mais festa que estudar ou até não ser cobrado pelos pais. Em contrapartida, decide manter um trabalho que sustente seus hábitos, seu estilo de vida na faculdade e pague suas contas. Isso é autonomia. Embora essa situação provavelmente deixe a maioria dos pais descontentes, nos confronta com algo muito legítimo: pais e filhos podem, sim, divergir. Este é um dos maiores desafios para nós, pais, aceitar as escolhas dos nossos filhos, o direito de exercer sua liberdade, exercitar sua independência, desde que com responsabilidade e autonomia.  Nesse caso, o discurso: “deixa eu fazer do meu jeito”, é justo.

 

 

Todos os seres humanos têm responsabilidades em todas as fases da vida, desde pequeninhos. Porém, quanto mais a gente cresce, mais liberdade se conquista, mas esse ganho de liberdade é diretamente proporcional ao ganho de responsabilidade. Nas minhas orientações em consultório, eu costumo dizer que um jovem pode ir conquistando tanta liberdade quanto ele se mostra capaz de administrá-la.  Que é através da responsabilidade que se conquista liberdade. Muita liberdade sem competência para lidar com ela não é um presente, é uma cilada!

 

Portanto, em algum momento, o jovem precisará entender, aceitar e acolher tudo, o bom e o difícil, o prazeroso e o doloroso, o divertido e o desafiador que engloba o processo de tornar-se adulto. Vai muito além de fazer 18 anos e gritar: “A vida é minha!”

 

Marcela Moura 30/10/20

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Dra Marcela Alves de Moura Especialista em Psiquiatria - Associação Brasileira de Psiquiatria. Mestrado e Doutorado em Psicologia Clínica - Washington State University - EUA

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