A Difícil Tarefa de Dar o Diagnóstico Psiquiátrico dos Filhos para Seus Pais...

A DIFÍCIL TAREFA DE DAR O DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO DOS FILHOS PARA SEUS PAIS...

 

 

É fato: todos pais e mães amorosos desejam que seu filho ou sua filha seja saudável e feliz. É lógico, é natural, é um desejo saudável! Entretanto, a vida apresenta diferentes desafios e, alguns deles envolvem os filhos.  Seja na forma de dor física, dor emocional, imperfeições, dificuldades ou limitações impostas a eles, há muitas situações ou condições que podem fazer com que filhos sofram, precisando de apoio, entendimento, aceitação e orientação dos pais. A verdade é que seja asma ou ansiedade, diabetes ou depressão, pai nenhum, mãe nenhuma quer ver seu filho sofrer!

 

À medida que a criança cresce, pais estão acostumados a fazer a consulta pediátrica e, eventualmente, lidar com uma situação difícil: uma noite de febre alta e apreensão; uma infecção; talvez uma cirurgia ou uma internação. Entretanto, psiquiatria é uma área da medicina tão desconhecida e distante para a maior parte das pessoas, que não passa na cabeça de muitos pais a possibilidade de um filho receber um diagnóstico psiquiátrico...

 

Assim, quando uma criança apresenta algum tipo de sofrimento psíquico- que vai além do que é parte da vivência habitual ou do desenvolvimento de qualquer criança- manifesto na forma de problemas de comportamento, sofrimento emocional ou somatização, alguns pais procuram racionalizar dentro daquele contexto que eles conhecem: é fase, é rebeldia, é temperamento forte,  e outras coisas do gênero. Quando o sofrimento persiste e vai comprometendo a vida familiar ou escolar e pais decidem que é preciso levar no médico, na maioria das vezes, começa uma peregrinação por uma variedade de especialidades médicas: a começar pelo pediatra; talvez o homeopata; às vezes o cardiologista pelo coração disparado; às vezes o gastroenterologista, pelas dores de estômago; certamente o neurologista pelos ”ataques de nervos”,  mas nunca o psiquiatra!

 

É raro uma criança ou adolescente com problema psiquiátrico ser prontamente trazido pelos pais para uma avaliação psiquiátrica. Quando a criança ou jovem em sofrimento psíquico finalmente chega ao psiquiatra, geralmente tem uma história de sofrimento por pelo menos algum tempo, muitas vezes até anos. Apesar disso, pais ainda vêm com a expectativa de que “não seja nada”. Alguns acreditam que crianças não tem razão para sofrer: “Não tem problemas!” “Fazemos tudo por ele/ela!” “Damos tudo para ele/ela!” “Tem tudo do bom e do melhor!“ Outros até desconfiam de que possa estar acontecendo alguma coisa relacionada ao que lhes trouxe à consulta: brigas na escola, dificuldade em ficar na escola, medo, ansiedade, dificuldade em ficar longe dos pais, crises de choro ou de birra, etc. No entanto, quase invariavelmente, pais vêm despreparados para a possibilidade – até probabilidade - de que ao final da avaliação psiquiátrica, um diagnóstico psiquiátrico possa ser feito...

 

A avaliação psiquiátrica é um processo longo que envolve vários elementos, que servirão de substrato para a formulação diagnóstica. Por outro lado, é também uma oportunidade para psiquiatra e família começarem a estabelecer uma aliança, um elo de colaboração e confiança, que deverá facilitar a conversa sobre as dificuldades que trouxeram a família à busca de ajuda. Ainda assim, boa parte das vezes o fato de que a criança ou adolescente apresenta um transtorno psiquiátrico chega como um “choque” para os pais! Como se apesar de todas as razões e preocupações que os trouxeram à consulta, ainda prevalecesse a esperança de que, no final, “não houvesse nenhum problema”.

 

Uma outra fonte de angústia e aflição é quando pais, até vêm esperando um certo diagnóstico, mas não imaginam que possa ser um outro diagnóstico, diferente do que eles consideraram inicialmente... Ou outros... Sim, pode ter mais de um diagnóstico! Comorbidades são relativamente frequentes em psiquiatria. As pessoas leigas confundem um sintoma com um transtorno e chegam, muitas vezes, ao consultório com ideias pré-concebidas, com seus diagnósticos “meio prontos”, presumidos pelos próprios pais, familiares, amigos ou, às vezes, por alguém da escola. Desta forma, confundem o sintoma “hiperatividade” que pode estar presente em muitos diferentes transtornos, com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Pode ficar complicado entender que o filho ou a filha “hiperativo (a)” não tem TDAH, por exemplo, mas sim, transtorno de humor bipolar...

 

Em todos esses casos, o psiquiatra se vê diante da difícil, mas importante tarefa de, com muito respeito e empatia, acolher esses pais nesse momento de vulnerabilidade, insegurança e, eventualmente, confusão, fornecer-lhes a informação, orientação e apoio necessários para compreender, assimilar e aceitar, não só o diagnóstico, mas também as medidas terapêuticas que se seguem.

 

Chegar a um diagnóstico é o primeiro passo para estabelecer metas de tratamento, que graças à evolução da psiquiatria nas últimas décadas, abre um leque de possibilidades de intervenções psicoterápicas e medicamentosas que melhoram em muito o prognóstico e a qualidade de vida da criança e do adolescente com o transtorno.

 

O psiquiatra estará empenhando em encontrar as melhores palavras para explicar com clareza, mas também com gentileza e compaixão o transtorno diagnosticado durante a avaliação, ciente, todavia de que não há palavras que possam amenizar a expectativa frustrada dos pais de que a avaliação psiquiátrica do(a) seu(sua) filho(a) “não daria em nada”...

 

Marcela Moura -Agosto 2019

 

 

 

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Dra Marcela Alves de Moura Especialista em Psiquiatria - Associação Brasileira de Psiquiatria. Mestrado e Doutorado em Psicologia Clínica - Washington State University - EUA

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